domingo, 31 de janeiro de 2010

Game Review: Maniac Mansion


Esses dias, entre blasfêmias, estudos e filmes (assisti ao tal Avatar em 3D, digno da Sessão da Tarde) lembrei, de súbito (como muitas coisas ocorrem comigo), de um de meus jogos de videogame preferidos all time: o Maniac Mansion, da Lucas Arts - sim, George Lucas é sinônimo de Star Wars, mas não se resume a isso, incluindo sua geek team. Conheci e viciei no Mansion na belle époque dos games, quando possuía um Nintendinho 8 bits genérico da CCE, o Turbogame, que era compatível com os cartuchos (é o novo!) yankees e japas.

O esquema de adventure era novidade pra mim, habituado aos jogos de porrada, naves e de estratégia. O Maniac Mansion foi pioneiro no gênero e influenciou toda uma geração de programadores e gamers. Foi um puta de um marco em minha atividade lúdica (Huizinga deveria ter vivido pra jogar também), porém foi-se o meu tempo, bem livre, diga-se de passagem, de gamemaníaco. Passei uns anos sem jogar, até. Eventualmente recorro a joguinhos em flash pra desbitolar, mas quando relembrei deste jogaço não resisti em baixá-lo e finalizá-lo novamente. Putz, outro dia dormi às 9:00 am fechando um terceiro final!

Antes de fazer esse review retomei a relação dialógica básica acerca do entretenimento - arte e/ou artifício? Questionamento semelhante enfrentei na graduação, quando aprendi muito bem sobre o dispositivo retórico na habilitação de publicidade & propaganda. É certo que a propaganda é, sim, um artifício (e braço-direito do capetalismo) que se vale da arte para estandardizar desejos e modelar subetividades narcísicas e "toxicômanas". A cultura pop que o diga! Transferi esta inquietação para os games, coisa que ainda não tinha feito; concluo que funcionam de modo quase inverso ao da propaganda: jogos eletrônicos são arte, sim, que se vale de artifícios comerciais. O mesmo pode ser dito de 99,9% da produção cultural dos anos 2000.

Voltemos ao Maniac Mansion. O jogo foi lançado nos 80's, o que por si só já me coloca em posição suspeita, dado meu fascínio por esse período histórico-estético. Foi "escrito" por Ron Gilbert e David Fox, programadores bambas da equipe da Lucas. Tinha como destacadas inovações a possibilidade de escolher dentre vários personagens (todos com appeal e habilidades diferentes), que podem desenrolar vários finais, dependendo de suas ações no jogo, que ainda é vasto e atual.

Até hoje o que me dá tesão em jogar é sua natureza híbrida, recheada de citações a vários clichês do cinema juvenil oitentista, com muito humor negro: pitadas de horror, pop/rock, terror, suspense, sexo (muitíssimo de leve), o garoto popular, a cheerleader, o nerd medroso, porém engenhoso, a punk que não deu certo, o new wave que quer dar certo, cientista maluco azulado, casa assombrada, ameaças espaciais e atômicas ('vivíamos' na I Guerra Fria naqueles tempos retrofuturos).

A história é simples e divertida: Dave Miller, o "boa-praça" do colégio, vê-se numa fria quando o Dr. Fred Edison, um cientista maluco controlado por um meteoro maligno, rapta sua namorada, Sandy Pants, pra extrair o cérebro da moça em nome de fins excusos - sim, ele queria dominar o mundo! O bunker do Dr. é uma mansão cheia enigmas, aposentos misteriosos, ítens específicos e convivas bizarros, como os Tentáculos Verde (cujo sonho é ser um rockstar) e Roxo (bedel e braço-direito do Dr.), Enfermeira Edna (esposa submissa do Dr. que guarda uma faceta ninfomaníaca), Ed Esquisitão (jovem milico filho de Fred e Edna, obcecado por seu hamster e com planos contrários aos da família) e o personagem mais inútil de todos, Primo Morto Ted, um corpo mumificado metido a bon vivant (possui um sarcófago com TV, pôsters de pin ups diferentes e sua própria máquina de malhar). Dave, como não podia deixar de ser, vai em busca de livrar sua mulha das garras do sinistro cientista, contando com a ajuda de mais dois amigos, a escolher numa lista de personagens que são a cara da época. São eles:
-Bernard Bernoulli: tipo clássico dos divertidos nerds que conhecemos por pérolas como Penetras na Festa dos Nerds - sim, aqueles da irmandade Lambda-Lambda-Addams. Acho-o o personagem mais útil, pois tem a habilidade de consertar máquinas essenciais no jogo; a desvantagem é que o elemento é um cagão, não se aproximando dos Tentáculos sem soltar gritinho.
- Razor: uma ruivinha punk metida a zégzi, que, segundo lendas nerdosas, foi inspirada na Tori Amos - quando esta tinha uma banda de rock muito paia. Ela toca o piano da mansão e pode explodir o hamster do Ed no microondas - só não entregue essa "receita" para o mesmo, pois vosso personagem morre e vira um fantasminha camarada - e inútil.
- Syd: a mesma merda que a Razor,só que é um cara que se veste melhor, afinal é new wave. Tem pinta de ser o loser do colégio que descobriu que ter uma banda é ótimo mecanismo de coleta de bucetas.
- Wendy: a pretensa escritora cabaçuda, que rende um final comédia e pode escrivinhar coisinhas na máquina de escrever.
- Michael F. Stope: a ala black da turma é o fotógrafo da escola e também desenrola final diferente, pois pode se aliar ao Ed quando revela fotos relativas ao plano mirabolante do jovem e azulado milico.
- Jeff Woodie: deixei este por último, pois todo e qualquer surfista é mané metido a garotão - alguém detecta um papo deles pra além de "ondas, picos, gatas, reggae e maconha"?. A única coisa que esse personagem despropositado faz é consertar o telefone (coisa que o caro Bernard também faz). Os devotos da Ayahuasca tão no mesmo bonde da "cabeça lenta". Evite contato.

Ia esquecendo do meteoro roxo, que é o causador dessa putaria toda. O que o jogador decidir fazer com ele ocasiona diferentes finais: ele pode virar até uma celebridade, ser preso pela Polícia Meteoro (composta por dois aliens tosquissimos), ir pelos ares junto a mansão e todo mundo que tá dentro e também subir ao espaço sideral com o carro incrementado de Ed. Esse meteoro é mesmo um filho-da-puta.

O jogo foi originalmente lançado em 1987 e rodou várias plataformas, como Amiga, Atari, PC e nintendinho 8 bits e virou um clássico. Recomendo a versão deluxe, que roda numa boa nos computadores atuais e tem os melhores elementos de todas as versões. Baixei o mesmo aqui: http://www.gamershell.com/download_5988.shtml

Baixe e jogue, essa porra anima por demais horas tediosas. E quem sacar dos clichês abordados finaliza facilmente. Dá pra configurar tranquilo e inclusive o jogador pode salvar sua partida onde achar melhor - bom salvar sempre que algo for desenrolado na história. Sugestão de equipe que aumenta a jogabilidade: Dave (é o único personagem 'imposto' pelo jogo, você começa sempre com ele; mas não possui talentos especiais); Bernard e algum dos rockers. Bonne chance!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Deus: um zumbi a ser sumariamente exterminado


Friedrich W. Nietzsche fez um favor inestimável para a humanidade: pisou na garganta de uma serpente venenosa e moribunda, assim sepultando-a - apesar de seus restos mortais (afinal, tudo morre) ainda estarem emanando um cheiro podre e contaminando a chandala servil, que chamo insultosamente de "ovelhinhas". Sim, estou falando de deus, aliás, da "ideia de deus", essa abstração-câncer que infecta e mortifica várias civilizações, sejam "primitivas" (ok,e ssas merecem um desconto) ou "modernas". A hecatombe é geral: deus se tornou um zumbi a ser sumariamente exterminado. Atirem na cabeça, não tem erro!

Descerei com muito prazer a peia no cristianismo (aliás, 'paulismo'), que julgo ser uma fonte "prolífica" de recalque, niilismo, coerção e alienação - ou "a pior ideia sobre deus" . Onde há a cruz, há também a guerra. Ah, esses fantasmas maldosos que são inimigos do devir e da liberdade... Quantos não morreram em suas fogueiras e quantos não passam fome por seu egoísmo... Se 1/3 do ouro do Vaticano fosse negociado, a fome seria coisa - feia - do passado, mas o papa é pop e o pop não poupa ninguém.

Max Weber, um dos "pais" da Sociologia e meu porquinho predileto, deu uma força nisso com a célebre crítica ao agenciamento economia-religião (em especial o protestantismo, que Nietzsche designa como 'a forma mais danosa do cristianismo) e suas diretrizes de desencantamento do mundo. Desencantar para exorcizarmos fantasmas abstratos que só instigam a dominação - que, para o autor, divide-se em: jurídica, carismática e tradicional (podendo imbrincar-se). Joguemos o cristo-paulismo nas duas últimas categorias para continuarmos a diversão de chutar cachorro morto.

Jesus, cuja existência ainda não foi - e nem será -c omprovada empiricamente, sobretudo em História, Arqueologia e Antropologia, nada mais foi que um proto-hippie metido a dominador. Ora, se a revolução consiste na troca (sempre violenta) de um poder estabelecido por outro, quando deus Jr. revoltou-se contra seu próprio povo, os judeus, ele nada mais almejava que PODER. É, nem só a extinta banda (electro-pop-punk-funk) Montage fala de money, sucess, fame and glamour. É uma fórmula de trapaça universal a ambição tornada em ganância desmedida.

Muitas agitações sociopolíticas e truques de prestidigitação depois, surgiu um sujeito histérico e megalomaníaco chamado Paulo, que de santo nada tinha e que seguia "muito bem" a supracitada fórmula. Ele fundou este bordel abominável chamado de igreja católica, assim modificando nos séculos posteriores todo o âmbito macro da geopolítica mundial. Deste bordel saíram várias putas sifilíticas querendo seu próprio quinhão, fundando suas próprias franchisings. No Brasil varonil, uma puta descarada se tornou cafetina: atende pelo nome de Edir Macedo, que só perde para Adolf Hitler em termos de contaminação ideológica. A Globo está aí na disputa pelo prêmio de "cobra mais peçonhenta". Quem ganha é o público! Pois reality shows são o máximo, não achas, caro e destemido leitor? Favor assistir e rir:

http://www.youtube.com/watch?v=6PXWvLPyOwE

Infelizes e niilistas de todos os (fracos) tipos, em busca de uma muleta - com elas os impotentes caminham mais facilmente - grudaram na nascente ideologia como carrapatos sedentos por sangue aidético. E tem sido assim desde então, a chandala sempre acha mais fácil comprar pronto do que fazer, ou, seguir um caminho pré-determinado por salafrários da retórica que criar e seguir o seu próprio. Lascou-se o poder subjetivo e a noção do homem como senhor de si como fatores acessíveis às massas, sempre volúveis e voláteis negativamente. Não me renderei!

Já não consigo mais distinguir as igrejas dos cartéis de drogas, ambos campeões do ramo empresarial na Terra. Uns preferem pagar a traficantes metidos a Robin Hood por psicotrópicos para saciar seu spleen; outros preferem pagar o dízimo para padrecos pedófilos e pastores ultracapitalistas (olha as ovelhinhas virando rango de lobos sem parar!) com o mesmo intuito. - redenção. De um lado, paraísos artificiais, de outro, paraísos transcendentais apoiados em convenções mesquinhas e mitologias carochinescas que explicam de onde viemos, onde estamos e para onde vamos. Com efeito, as drogas e vícios aqui em jogo apenas mudam de nome e contexto, arrebanhando uma legião de caricaturas de seres humanos.

Maffesoli fala de um "reencantamento do mundo", mas para além dessas convenções molares e tirânicas; é um "apóstolo", como o pluricitado Nietzsche, do trágico na vida, a vida como afirmação de si pelo contado com o outro. E é impressionante como certos ditos populares, como o "coisa ruim não morre fácil" estão corretos da mais brilhante razão. Não poderia deixar de concordar, visto que o maior e mais terrível de todos os zumbis continua infectando a humanidade, mas não com o conhecido T virus, e sim com o vírus Fé(zes). Recomendo Michel Onfray, ótimo remédio contemporâneo.

Não sou coprófilo (leia-se 'quem curte devorar merda e se lambuzar') e espero que quem leia tais linhas (de fuga) também não o seja. Para afirmar a vontade de potência subjetiva, é um dever e devir de todo ser humano racional recusar, atirar na cabeça e esquartejar este zumbi chamado deus a cada milissegundo. Ele ronda nossas, casas, escolas, universidades, hospitais, prisões, não-lugares (Augé) e onde mais possamos imaginar. Diga não à ao vírus fé(zes) e diga um sim à vida, à potência e ao devir-peia! Pelo triunfo da racionalidade perante o obscurantismo religioso-dogmático!

DIGAMOS SIM À VIDA, SEMPRE!

Notas voláteis sobre o rock fortalezense: idas e vindas


Para os desavisados, os etnocêntricos e os afoitos, desde a década de 1970 que o rock autoral, que prefiro nomear de original (voltarei a isso a posteriori), é cometido em Fortaleza. Oui, mes amis, ando referenciando demais a cidade onde nasci e construí partes de minha subjetividade mazelídea, mas não pretendo abraçar o mundo com as pernas, apesar de me considerar um nômade para o mundo e flâneur para as urbes. Certamente este planeta reclamaria da raivosa rolada que daria Nele e meu gozo seria suicida - quiçá esquizofrênico e/ou perverso. Porém estarei me reterritorializando eventualmente. Os vulcões, furacões, terremotos e tsunamis que façam seu trabalho oportuno limpando a cagada generalizada! O HAITI QUE EXPLODA, OLHEM AQUI PRA DENTRO, MALTCHIKS!

Voltando ao tópico "rock alencarino-litorâneo". Desde pivete aprecio, coleciono e agito com o rock globalesco, mas só quando era um teenager edipianamente reprimido e em busca de revolta, lá pelos idos dos 90's, que fui sacar que algo rolava por estas paragens encaloradas. Depois, entre Apolo e Dionísio, Jekyll e Hyde, fiz graduação e mestrado tomando o rock como precursor obscuro/atrator caótico para reflexões acadêmicas e continuei sendo fã, músico e filho-da-puta.

Recuarei um pouco no tempo, desde 2010. 2006 foi um aninho atípico na até então meio que estagnada cena rock/pop cearense. Qualquer pessoa mais ou menos antenada com o underground local podia notar a atenção que os artistas com trabalho original vinham chamado nas mais diversas mídias, mostrando que as paragens alencarinas têm muito que mostrar em termos de diversidade musical. Matérias em jornais impressos, TV, blogs, sites e algumas rádios se tornaram bem mais constantes que outrora, assim como aumentou significativamente o número de festivais e mostras de bandas a ocorrer em Fortaleza, a (mal)dita “capital do forró” – papo balela que aos poucos está sendo exorcizadao e já não era sem tempo. O rock and roll agradece!

Ao que parece, o rock, mulato velho e bastardo, finalmente tem deixado de ser um outsider perante a cultura popular cearense, assim traçando suas linhas de fuga, obtendo espaços e visibilidade que habitualmente não tinha. Criou-se um filão falsamente novo, que estava sempre por aí rondando o establishment da maioria silenciosa. Era impressionante notar que essa aglomeração roqueira tinha adquirido ares de "movimento", isso se falarmos nos termos da Física, na idéia de “onda”- hype é o caralho! Se existem ares de hype, isso já é outra história, e como estamos fora de grandes pólos fonográficos o mesmo é convertido sabiamente em lobby, por assim dizer. Seríamos sucessores elétricos e tardios dos "velhinhos" do Pessoal do Ceará? Whoa! Uma guitarra despencou e matou o pavão misterioso... E quem tem pena do pavão (agora depenado)? Eu não e digo mais: que se foda com brita, areia grossa e um pênis de jumento!

É certo que as ondas vêm e vão, o que é natural também em todo fluxo histórico-social; porém as coisas pareciam estar “zarpando”, com bandas e mais bandas novas surgindo e outras que já não possuem o “cheiro de novidade” se consolidando e se destacando num métier antes dominado por outros produtos-bomba das indústrias culturais (é, Adorno ainda presta), como o supracitado forró embalado a vácuo (advindo do gênio maligno que habita as cucas de empresários astutos), o axé (que parece ainda estar vivendo dias francos de decadência - tcha-an, tcha-an!) e as medíocres bandas cover (entes simulacrais infames que incutem preguiça na audiência para que a mesma tema saborear o ‘novo’; mas há mercado pra isso, lógico, até a presente data).

O rock igualmente é produto da indústria cultural, esse bicho-papão tão temido e capitalista, porém soa ainda pouco compreendido pelas massas e distorcido por intelectuais tendenciosos e chatonildos - tô fora dessa! Debate teórico à parte, é inegável uma constante movimentação telúrica (é, viemos das Profundas). Denominei, então, esse rizoma sócio-sonoro de New Wave cabeça-chata – há quem prefira Nouvélle Vague Alencárine ou Nueva Vaga Carcará – ora, podemos “vender” na Europa e no mercado latino, rá,rá! E alhures também, oras... E nem me venham com acusações de (auto)preconceito velado; esta alusão à expressão meio que ofensiva para alguns, “cabeça-chata”, nada mais é que uma reverência ao picaresco espírito cearense, moleque e debochado por natureza - e que não tem medo nem pudor em gritar um sonoro “iiiieeeeeeeeeeeeeeeiiiiii” (ou um bello fuck off) para os cuzóides de plantão e homo otarius que gozam das dádivas morosas da vida besta.

A aclunha cabia, mais acertadamente, às bandas que apareceram por 2004/2005, rompendo com o cansado modus operandi que permeava este cenário regional tão controvertido quanto o próprio rock/pop mundial. Há também quem não cria na existência de uma "cena" (prefiro roteiro), mas as evidências pareciam apontar para uma perspectiva mais animadora e menos enraizada. O que era velho-oeste ontem tem pressuposto uma visão de Eldorado pop... Claro, sem olhares utópicos (argh!) ou idealistas (urgh!) quanto a isto. Seria também essa efervescência que passava o rock alencarino o the next big thing do pop nacional? Só o futuro dirá, mas a diversidade e o empreendedorismo até então inéditos das bandas têm falado por si sós.

Por mais que nossos nativos/locais (xenófilos desde tempos imemoriais) não valorizem, temos aqui um bello celeiro de artistas que já não deixam nada a dever de cenas conhecidamente mais "movimentadas" (relativizemos isso) como as de Goiânia (hoje a rock city do País), Cuiabá, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba e do inevitável eixo Rio-São Paulo, “mecas” que antes eram a maioria esmagadora em termos de visibilidade artística no ramo.

Até mesmo as batidas concepções de underground e mainstream (e independente, que depende pra cacete) têm se modificado frente a estes novos tempos ciberculturalizados - outra questão que pretendo retomar conceitual e empiricamente. Hoje as bandas cearenses registram e divulgam suas obras mais facilmente, graças ao barateamento dos processos de gravação digitais (tá cheio de estúdios bacanas pela city) e da Internet como “grande mídia” e espaço democrático-caótico de promoção, onde os públicos-alvos são atingidos, assim como os curiosos se instigam em sacar algo fora dos “eixões” pra lá de conhecidos. Daí, pra usar do velho e querido mote “do it yourself” se torna uma necessidade sintomática; tal frase de efeito não poderia ser mais honesta para tentar definir o que se anda fazendo em termos de música independente por Fortaleza. E, de tabu, a dita pirataria (tragam as garrafas de rum, seus poltrões!) se tornou aliada valorosa para aqueles sem uma gravadora e/ou selo para prensar discos...

E quem vai esperar que isso venha do nada? Niilistas dando uma de crentes? Geração espontânea? Oui, as moscas realmente vivem poucos dias e não têm tempo a perder em seu ofício de pousar na merda e na promoção da decomposição; Nietzsche matou deus, morreu doido e o rock é coisa de nosso muso, o Capeta.

Como criar uma máquina de guerra pra derrubar barreiras que antes brochavam o rocker mais vetusto? Vamos lá, nem só Malcolm MacLaren pode pensar malacamente na selva de pedra popiana. Receitinha de bolo: toque razoavelmente (essa de tocar mal morreu com o punk pelego); monte uma banda que seja interessante (estética e musicalmente, de preferência); ensaie até rachar; busque referências consistentes e que não se manifestem como simulacro do original (para isso temos as bandas, ops, BUNDAS cover); toque onde e quando puder (quase sempre sem cachês - o trabalho alienado fode-nos todos); divulgue a banda na net (orkut, myspace, blogs e flogs são uma arma de alto poder de fogo- atire à vontade); mostre serviço, forme ou frequente panelinhas ou se afilie a associações; junte os cachês (quando e se existirem); grave em um estúdio oferecendo bom custo-benefício (a não ser que você tenha grana pra torrar em alguma superprodução, mas o negócio aqui é nos calabouços); divulgue novamente a banda na net; compre uns CDs virgens, queime-os com suas músicas, vá numa gráfica acessível, imprima seus encartes (se existirem, part II); batalhe por vagas em festivais renomados, locais e nacionais; negocie com algum selo e opte pelo prensado, não pelo solto.

Eu, meus comparsas de banda e vários outros com sangue no olho têm se aventurado e, vira e mexe (ou estica e puxa na suruba da Xuxa), desdobrado coisas bacanas. Sometimes é desolador pagar pra trabalhar, cair na estrada desbundado, passar por apertos mille, porém o tesão de tocar ainda persiste, sendo maior que a bundamolice reinante - fora os constantes boicotes, especulações imobiliárias, subornos e "caças às bruxas" que hoje empesteiam Fortaleza.

Essa nova geração (esqueçam a Pepsi, pois a Coca é do Tasso e ele é onipotente no Estado) está mais consciente (e consistente) de que a época romântica do rock acabou: quem é que ainda quer morrer tocando numa garagem cubicular e/ou em moquifos descoladinhos pra meia dúzia de infelizes sujismundos? Por isso que digo que estes artistas já não distinguem mais tanto assim o underground do mainstream – surgiu um novo devir, um novo jeito de se encarar o mondo cane das guitarras distorcidas. Não falo em se vender (é, ganhar dinheiro fazendo o que se gosta é sonho para a maioria - eu incluso), mas underground é pura resistência subterrânea, pacto de insubmissão ao lugar-comum, às regras mais podres deste jogo. Nós temos que saquear e pilhar, incendiar aldeias e chacinar convenções; quem ficar pra trás que coma poeira. Afinal, the “show must go on”, n’est pas? Ao que parece os jogadores estão capturando e usando mais e melhores trunfos para essa tortuosa escalada roqueira. Garçon, mil linhas de fuga, por favor! Taca na conta!

P.S. - Leibniz dizia: "eu acreditava ter chegado ao porto, mas fui lançado de volta ao alto mar". Veremos até onde a baladeira estica... E quando essa fuleiragem toda deixar de ser divertida, tornar-me-ei açougueiro ou palhaço de festinha infantil. Cagarei no bolo e mijarei no refrigerante, podem ter certeza!