terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Rock Show Review: Kohbaia numa Semana Satan


Era um realmente um “sábado de aleluia”. Estava eu e meus confrades que não viajaram numa certa semana santa (ou seria semana satan?) zanzando num encontro regional de estudantes de Comunicação (eu ainda era graduando) realizado na U.F.C., mais precisamente na velha Quadra do Céu – palco de calouradas e demências memoráveis ao longo de tantos anos em que frequento a supracitada Universidade, que tem virado um antro deplorável d'uma caretice outrora tão combatida.

E, falando em demência, estava lá justamente pra assistir ao show da veterana (e, infelizmente, extinta) banda Kohbaia – que é pra quem não a conheceu em seus 10 anos de rock and roll, um combo ensandecido que ejaculava um mix explosivo das vertentes punk (proto, horror e pós) aliadas a doses glam barra-pesada e um blues bastardo, distorcido no Inferno - o filme de "terrir" homônimo é outra desgraça. Pode parecer uma descrição pomposa, mas só quem presenciou a atuação dos cabras pode compreender essa impressão em sua totalidade.

A malta concentravase para cometer suas atrocidades sonoras; nos “bastidores” vadiando com a banda, eu integrava com estranho prazer um séquito de amigos-fãs e freaks mais que conhecidos em Fortaleza. Tinha de tudo: membros de outras bandas, estudantes, vadias, bebuns, junkies e maluquettes em geral. Entre gorós e mafús conversávamos animadamente, esperando ansiosamente que um grupo de forró pé-de-serra (acho que o termo ‘pé-de-asfalto’ seria mais condizente) terminasse sua soporífera apresentação que embalava os estudantes dessa geração politicamente correta que tem infestado as faculdades de todo o país. E a banda ainda fez uma versão bisonha para “No Woman no Cry” de Bob Marley, o deus-sol de todo e qualquer “êxidas” – segundo o vocabulário da banda e sua patota, tal alcunha designa aquela casta pseudo-cult que ama ser hippie tardio, que é também fã de Raulzito, surfe e de peripécias com malabares. Um leve cheiro de suvaqueira pairava no ar acadêmico...

Logo após o fim do "show" entra em cena um DJ tocando trance e techno, ritmos queridinhos da “geração balas e doces” pós-pós moderna – que também ama ser circense e xarope. Em não muitas danças sintéticas e “pinadas” depois, era hora da Kohbaia tocar o terror pra uma platéia composta, em sua grande maioria, dos que desconsideram o que está rolando no prolífico underground cearense. O rock sujo e descarado feito além das fronteiras da Aldeota - Álvaro Weyne, pra ser mais exato - emitia os primeiros grunhidos na passagem de som.

Jonata Doll, vocalista e único remanescente da formação original, sobe ao palco e observa o público com olhos vidrados e um figurino digno de uma amálgama de Lux Interior (The Cramps) e Iggy Pop (talvez a maior influência da banda), que incutia surpresa e riso nos presentes. Subitamente, Doll me olha com um sorriso insano e se aproxima; estende seu braço magérrimo com algo que parecia ser um cigarro na escuridão; passa-me este algo, o qual pego, levando-o em direção à minha boca; de repente “aquilo” se mexe por entre meus dedos... Saquei na hora que o “aquilo” era uma BARATA! Caralho!

Depois do susto eu soltei uma gargalhada que contagiou os que estavam próximos, que diziam: “porra, o Johnny é mesmo louco”. Concordo, pois o mesmo indagou depois, de forma natural: “galera, vocês viram minha barata por aí?” De supetão a Kohbaia cospe a primeira música... O som estava ótimo, tudo audível e transpirando decibéis de dinamite. Era o segundo show após um dos retornos da banda e eles acabaram fazendo um dos melhores da carreira deles – não, essa não é de cheirar, se bem que... A parada estratégica, com mais uma mudança no time, provou ter sido válida, pois os caras demonstraram um fôlego revigorado e muita vontade de procurar e destruir os caretas e os tais êxidas.

A Kohbaia ia destilando seu veneno com hits do submundo que atendem por títulos singelos como “Cheira-Cola” (um perfeito hino tóxico-neandertal), “Senhor Válber” (sobre um pedófilo que tinha uma locadora de videogame na área da trupe), “Prostituta Adolescente” (cujo clipe foi rodado no celebérrimo puteiro conhecido como Motel 90) e “Namorada Fantasma” (talvez a melhor da nova safra de canções do conjunto). Saulo Raphael (bass/backing vocals) e Saulo Leandro (guitar), com suas atuações viscerais, porém estáticas, emolduravam o carismático lead vocal em sua performance alucinada, ritmada pelas violentas cacetadas de Kid Júnior (drums).

A dupla de cordas (que também integrava outraa extinta banda do indie alencarino, K-Waves), o baterista troglodita e o vocalista andrógino-demencial botaram fogo na audiência, que já estava possuída por aquela celebração do “lado peia” da vida, regada a afinações demoradas, quebras de corda, baratas perdidas e exibição de órgãos sexuais balançantes... Todo saco escrotal que não o meu é HORRENDO!

O show terminoua com muitos aplausos, comentários dos mais diversos e com a banda descendo do palco com (sempre boa) sensação de missão cumprida pra continuar a noite de aleluia, que fez Judas ser trés surrado até o êxtase... Lembro-me de ter voltado como um zumbi pra casa, em plenas 10 horas da manhã pensando: “os mortos-vivos voltam com barata nos dedos e guitarras em riste”. Fui cobaia do rock na Semana Satan...

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Clipe da Kohbaia, "Prostituta Adolescente", by André "poita" Moura: http://www.youtube.com/watch?v=Obf1EJEdmoQ

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