quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Rock review: God's Own Medicine by The Mission UK


Vasculhando alguns textos antigos meus, achei um review que fiz para uma revista sobre a cultura gótica que mantinha com alguns parceiros de longa data, A Guilda. Infelizmente só ejaculamos um único número, o zero, porém a publicação fez algum estardalhaço nas trevas nacionais e rodou o Brasil em forma de arquivos PDF.

Colaborei também com um "manifesto gótico" que hoje considero pra lá de ingênuo, porém apaixonado e este review acerca d'um disco que considero digno d'uma "discoteca pop fundamental" de uma banda bacana - God's Own Medicine, dos ingleses do The Mission UK, eternamente (e nem sempre justamente) associados ao contexto gótico, também conhecido como dark no Brasil. O espaço era pequeno devido a formatação e relendo isso hoje, minha compulsão de escrever (uns apressadinhos de merda acham-me prolixo) falou alto e vou aqui dar uma expandida/mexida básica; lá vai:

O ano era 1986. Chegava às lojas o primeiro LP do The Mission UK, o clássico God’s Own Medicine, alavancado pelo mega-hit "Severina", executado ad nauseam em rádios do mundo inteiro, assim espalhando o chamado gothic rock ao grande público. No ano anterior, por um sério conflito de egos (coisa bem comum em bandas de rock), Andrew Eldritch expulsa o guitarrista Wayne Hussey e o baixista Craig Adams do legendário grupo The Sisters of Mercy.


Os músicos acabam levando suas músicas rejeitadas para o The Mission UK, o então novo projeto da dupla, que completou o time com Simon Hinkler (guitarra) e Mick Brown (batera). Este "racha histórico" gerou duas bandas de estilos distintos – enquanto o Sisters ficou cada vez mais experimental (vide o álbum Floodland) e depois mais hard rock (Vision Thing), o Mission adotou uma postura flamboyant, algo menos cavernoso e mais ‘romântico’ - alguns até chamaram o visu dos caras de "goppie", suposto e indigesto mix de gótico com hippie (eca!).


A proposta mais pop da banda nascente não impediu que detonasse músicas com arranjos mais trabalhados que as da época de Sisters, que era bem minimalista. Muitos dos elementos que adotei para minha própria guitarrada vieram daí, confesso; tio Bourdieu já falou muito sobre a questão de gosto e só quem cagou no próprio pé se justifica.


Faixas potentes como "Wasteland" (uma obra-prima apocalíptica), "Love Me to Death", "Stay with Me", "Garden of Delight" (com quarteto de cordas, bem diferente d'uma rara demo do Sisters) demonstram o poder de fogo da dupla Hussey/Adams e de seus asseclas. No geral, o disco todo mantém o pique e também conta com a participação dos vocais de Julianne Regan, membro de outra boa banda, porém subestimada, o All About Eve, que também ia nessa de flamboyant. Ciganos, sim; hippies, não. Ah! Hussey retribuiu a canja de Regan no primeiro álbum da banda dela, da mesma forma.


Após este começo estrondoso, o The Mission UK lançou mais dois grandes álbuns, Chilren (épico produzido pelo ex-baixista do Led Zeppelin, John Paul Jones) e Carved In Sand (já mais roqueiro). Daí, não sei o que diabos deu neles, pois se jogaram ladeira abaixo com discos bastante irregulares e até medíocres, como o medonhamente equivocado Mask; mas God’s Own Medicine permanece como o clássico-mor da banda e como destaque da discografia básica do rock gótico. Uma pequena curiosidade: a expressão inglesa que batiza esta magnum opus do Mission é uma clara alusão à heroína, chamada pelos junkies de priscas eras de "o próprio remédio de deus". Ele está morto, nós não. Vivas!


E como admiro a audácia de sujeitos como Barba Negra, Cheng I Sao e Jack Sparrow, gostaria de compartilhar com o leitor esta puta sonzeira, recheada de bônus: http://depositfiles.com/pt/files/2941848


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