segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Para Além das Mórbidas Molduras


O que seria necessário para eternizar um momento? A resposta é aparentemente simples e sem conotações romantizadas (babacas): capturá-lo, matá-lo, emoldurá-lo e torná-lo uma imagem estático-estética, de tons cinzentos ou multicolores – a opção fica à volonté, se bem que sempre preferi P & B.


São muitos e ambíguos os sentidos/sentimentos que uma imagem estacionária (seja um quadro ou uma fotografia) pode evocar no ser demasiado humano: nostalgia, alegria, melancolia, tesão e putaria... Enfim, uma miríade de sensações que aí estão para contaminar-nos. Preso numa época de rápida movimentação e reconfiguração, o Homem (pós) moderno (eu, tu, ele, nós, vós, eles) é refém de um presente extensivo, intensivo e volatilizado. "Que seja eterna enquanto dure a esquizofrenia" - disse eu para vários de meus vários eus.

O tempo sempre foi e será um tirano impiedoso – mas qual tirano não seria? Como o grandioso Nietzsche/Zaratustra enunciava, deveríamos nós também ter um pouco disso; a crueldade é uma bênção. A MARCHA nunca pára e tudo atropela com seus passos de titã antropofágico. Chrono e Chronos; tempo e tempos; linha e círculo; dobras e desdobras; chibata e peia. O Eterno Retorno tinge as areias do tampo com tons de fênix, mas ninguém volta como já fora d’antes.

O que é agora não será depois, pois tudo é afetado pelo devir e pela peia. Tudo se reveste de nomadismo, de mutabilidade, assim é este círculo vicioso/ciclo virtuoso que nos fagocita .Os ponteiros não param : são espadas afiadas a nos dilacerar com prazer sadeano. Uns gozam, outros choramingam - vou correndo ao banco dos ocos vender esperma!

Chrono é quem mata os momentos e coisas um a um. Uma fotografia ou quadro pode virtualmente congelar estes dados momentos, assim dando uma falsa sensação de eternidade. Mas esta se constitui em uma eternidade plastificada, pois nela notamos só um esboço virtual do momento que vivemos/sobrevivemos, com a morte invadindo pouco a pouco nossas frágeis vidinhazinhas. E se ela é a única certeza da vida, nada melhor que um flerte com aquilo que nos é fatal - "política da boa vizinhança".

Como “bons” macacos piorados que somos, somos mórbidos por natureza, necrófilos de profissão. Nosso fascínio pela ideia da e de morte (e pelo medo embutido nisto) acaba sendo maior que a vida em si, especialmente para os fracos em geral e OS POBRES CORDEIROS de deus (abstrações merecem sempre letras minúsculas). As molduras que damos às imagens tornam-se em traduções trágicas do momentum, ou, em minha taxonomia mazeliana, “momentos zumbis”. Sabemos que estes espaços-tempos cronológicos nunca voltarão, mas reverberarão como lembranças mortas-vivas. Agrada-nos salvaguardar e colecionar tais momentos, seja por sadismo, masoquismo ou pura nostalgia. Queimemos, pois, o filme!

Deveríamos encarar as múltiplas mudanças com mais coragem, estoicismo e virilidade, pois são processos inevitáveis e necessários, afinal isto é puro devir. Somos carrascos de nós mesmos, ou heautontimoroumenos, para parafrasear meu amado Baudelaire, desta vez inspirado numa comédia de Terencius. Carregar cruzes (cruzes!) é SEMPRE algo impotente e démodé, pois o destino sempre estará aqui pregando peças atrozes e oferecendo surpresas e peias mille. Somos action figures de carne e vaidade, à solta num mundo eternamente moribundo e confuso. É preciso perder para achar e vice-versa.


A nostalgia se faz de altar e “recordar é viver” - "viver para recordar" é somente para nós, os poucos que podem. O grande problema é a estagnação do enraizamento, o descaso pelas dobras e pelo devir. Porém, o estagnado morre mais facilmente, felizmente. Tudo morre; pegue seu lugar na fila. Minha senha é a de número 666. Vai demorar...

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